quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Pela Lapa, com carinho

A Lapa do Rio é um exemplo de ausência do poder público. Cansados de ver lixo na rua, desordem nos bares, moradores de rua nas calçadas, o barulho das casas noturnas e tantas outras cenas inaceitáveis, os moradores resolveram se mexer. Um passo importante foi a criação de um espaço no Face "Eles não amam a Lapa" para denunciar as mais diversas perturbações urbanas como a poluição visual e a violência. A partir das fotos e mensagens postadas, os moradores resolveram ir para a Rua protestar, na véspera do carnaval. Esse encontro estimulou novas ações, como o manifesto "Eu Luto pela Lapa" previsto para o próximo dia 1 (ver convite abaixo: e participar!).

O sub-prefeito da Lapa, Luiz Cláudio, procurou os representantes do movimento para participar da reunião que aconteceu hoje para discutir a pauta das reivindicações desse manifesto. Ao ser perguntado sobre o valor da arrecadação de impostos, tal representante público argumentou que não tinha tal infomação porque não era secretário da fazenda! Sobre os problemas relativos à segurança - sobretudo o fato de os agentes militares não circularem pelo bairro, ele respondeu que tal questão era da responsabilidade da polícia, sobre o lixo, disse que "o que podia fazer" era falar com o presidente da Comlurb. Enfim, na prática, mais uma vez a prefeitura foi omissa.

Para mudar essa visão sobre a sub-prefeitura da Lapa, queremos transparência na gestão dos recursos gerados pela arrecadação dos impostos arrecadados aqui. Queremos conhecer o Plano Diretor do bairro e implementar um orçamento participativo. Será que estamos pedindo muito?



Amigos da Lapa, pensamos bastante e chegamos a conclusão que a única arma que temos para nos defender é a união e a inteligência.
Entendemos que uma manifestação todas as sextas pode desgastar o nosso movimento e enfraquecê-lo. Vamos fazer uma coisa mais forte para trazer um resultado melhor.
Convocamos os amigos para ocupar a praça no dia 1 de março, aniversário do Rio, com vários eventos culturais. Música, exposição de fotos da Lapa tiradas por nós, etc. Chamaremos esta manifestação de "Luto pela Lapa"
Propomos que deste a véspera, dia 28 de fevereiro, coloquemos por toda Lapa/centro tarjas pretas e panos pretos na janela para simbolizarmos esse drama que vivemos.
Além disso, com a ajuda de amigos que moram na Praça João Pessoa, vamos colocar grandes faixas em prédios do lugar com mensagens tipo "moradores da Lapa/Centro resgatam a praça das mãos do descaso e do abandono"... pensemos juntos.
Fitas nas antenas de carros, como pulseiras, nos cabelos, nas camisas. Vamos trazer o bairro inteiro para essa briga.
Quem quiser participar e trazer alguma atração cultural, avise imediatamente. Se pudermos, faremos festa pacífica e sem muito barulho durante o dia inteiro, respeitando a lei do silêncio.
Vamos multiplicar o número de participantes! É agora ou nunca!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Creche Cara: razões para não cair nessa cilada

Foi o tempo em que creche era um depósito de crianças. Hoje é inegável o papel das escolas infantis no desenvolvimento da criança. Os empresários do ramo têm se apressado em atender às exigências dos consumidores, cada vez mais atentos aos pequenos detalhes na hora de escolher a instituição para deixar os pequenos herdeiros.

Mas por mais que as condições ideais para promover o tão almejado desenvolvimento global de nossos filhos custe dinheiro, nada justifica os preços abusivos das creches do Rio de Janeiro, a não ser o fato de o valor das mensalidades ter se transformado em mais um objeto de ostentação, como se, escola cara fosse sinônimo de qualidade de formação.

Não precisa de tanto dinheiro para oferecer o que de fato as crianças pequenas precisam: um ambiente limpo, atenção de profissionais competentes, alimentação saudável, brincadeira ao ar livre e atividades criativas para serem curtidas em grupo, de preferência reaproveitando materiais e economizando recursos naturais. Ouso pensar que seria plenamente possível cobrar 500 reais de mensalidade, mesmo que a creche estivesse localizada na zona sul, arcasse com um aluguel alto e pagasse salários decentes aos seus professores - de acordo com o sinpro-RJ a categoria educadores de ensino infantil costuma ser a mais explorada. Suspeito que as mensalidades não caem porque existe gente o suficiente disposto à desembolsar muito mais do que o viável - quanto mais cara a mensalidade, maiores as filas de espera!

O que os gestores das creches que enxergam as crianças como máquinas de fazer dinheiro não consideram é que a voracidade de tantas cobranças  resulta no endividamento das famílias, na crescente sobrecarga de trabalho e, consequentemente, na diminuição do convívio da criança com os pais - há escolas infantis que ficam com os pequenos 12 horas ou mais! Quando é que essa criança sentirá o toque da mãe, o cheiro do pai, a doçura dos avós? Que ser humano é esse que está sendo formado? Meninos e meninas expostos aos estímulos cada vez mais radicais, recebendo mimos sem limites, e... ainda assim tristes, aparentemente desamparados, emocionalmente desequilibrados, incapazes de responder estímulos ou portadores de TDAH e outras sopas de letras...?

Apesar dos pesares, acredito que é possível resgatar a escola que deveria existir dentro da família. Ali, os educadores - pais, mães ou responsáveis - podem oferecer o melhor ensino: o exemplo. E porque não procurar uma escola, de preferência pública, onde a participação da família seja bem vinda?  Economizar essa bolada pode garantir a convivência com o seu filhote! Então, trate de encontrar boas razões para passar mais tempo com seus filhos, explorando lugares onde aprender é bom, bonito e nem sempre custa dinheiro.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Superlotação: desafio para o ensino de ciências

Na contemporaneidade digital, nós professores podemos contar com inúmeros recursos - atividades, apresentações, vídeos... - disponíveis gratuitamente e muito bem organizados em sites de uso educacional aberto, como a plataforma Educopédia.

Navegando pelos materiais produzidos por meus colegas de área, como os do Ciência na Mão (USP) e tantos outros sites de ciências, tenho repensando o ensino de ciências como a oportunidade de aguçar a curiosidade e diminuir a distância entre a prática cientifica  e o quotidiano dos meus alunos.



Nesse início do ano, tenho listado nomes de colegas para promover a sempre instigante "visita de cientista" nas minhas turmas. Adoro observar nesses encontros o brilho no olhar dos meninos e dos cientistas: os primeiros, na descoberta de fatos inusitados de quem faz ciência, já os segundos, na viagem no tempo que eles fazem, quando ainda estavam no corpo de criança, sonhando com o dia em que seriam cientistas.

Além de despertar uma paixão, a mesma que me fez escolher esse caminho, quero que minha prática promova a reflexão sobre o papel social da ciência: como os ditos avanços científicos promovem o progresso e a qualidade de vida? Quero também que, através das minhas aulas, os adolescentes possam aguçar o senso crítico ao descobrir que a ciência pode sim transformar, mas nem sempre de forma sustentável.

Preciso aprender cada vez mais considerar as necessidades e potencialidades locais e planejar cuidadosamente, até para facilitar o meu trabalho. Afinal existe vida além da sala de aula: além de professora, sou mulher, mãe, amiga, atriz, contadora de histórias...




Na prefeitura, conto com os cadernos de ciências produzido pela SME. Na rede particular, conto com o material da Sangari. Ambos parecem ter sido elaborados por profissionais competentes que buscam despertar a curiosidade com leveza, promovendo o encantamento pela ciência. São suportes importantes para a aprendizagem significativa que todos nós queremos. Mas será que investir no material e na capacitação dos professores basta? 

Na prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo, poucas escolas contam com um laboratório bem montado e menos ainda com um professor de laboratório que  possibilite dividir as turmas - cada vez mais lotadas. 

Então, tenho um dilema: as práticas que me encantam - por permitir que o aluno participe de fato com a construção do conhecimento - são inviáveis em turmas de 35 ou mais alunos. Na superlotação, se o professor de Ciências, Biologia e outros conseguirem dar uma aula expositiva, merece todo o respeito do mundo! 

Assim, a possibilidade de formar o "cientista do amanhã" ou de fazer "ciência hoje" nas escolas, parece mais utópica que nunca.