quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mamas Poderosas

Eu nem acredito que vou reviver a deliciosa experiência de dar de mamar a uma criança: ou à muitas, caso eu consiga novamente ser doadora de leite materno! Mas dessa vez, espero poder amamentar minha filha na primeira hora após o nascimento: isso não foi possível com a minha primeira filha porque o meu plano de parto foi engavetado pela obstetra que fez o parto dela. Mas dessa vez espero ser diferente, principalmente depois que li uma reportagem com o dr. Renato Kalil onde ele afirma que dos 10,9 milhões de mortes de menores de 5 anos, 4 milhões acontecem no primeiro mês de vida e, destas, UM MILHÃO poderiam ser evitadas se todas as mulheres iniciassem a amamentação na primeira hora!



O contato precoce via leite materno oferece vantagens para a mãe, o bebê e a sociedade, uma vez que ele fortalece um poderoso vínculo afetivo que pode fazer toda a diferença quando esse pequeno ser chegar na fase adulta. Ao oferecer o peito logo que o bebê vem ao mundo, a mulher é recompensada porque isso irá prevenir hemorragias pós parto, antecipar a chegada do leite, diminuir risco de fissura e de formações de pedras no peito. Além disso, essa primeira mamada diminui o risco de câncer de mama e ovário, anemia e depressão pós parto. O bebê também lucra ao se sentir protegido e seguro, naquele momento em que seu psiquismo está extremamente estimulado e vulnerável. Para a sociedade, na medida em que a amamentação previne inúmeros problemas de saúde e comportamentos de risco, ela reduz o enorme volume de investimentos que poderia ser empregado no combate à doenças e à violência.

Assim, a amamentação deve ser um projeto da família, da sociedade e de seus governantes. A família, por exemplo, pode planejar o que cada membro deve fazer para que a mãe e o bebê tenham plena condição para viabilizar o aleitamento e que ele não sofra qualquer tipo de perturbação. Garantir um ambiente tranquilo e limpo,  além de palavras e atitudes de reconhecimento, também são medidas importantes. Gestos singelos que demonstram cuidado e carinho, como oferecer água, frutas e/ou sucos para a mãe que amamenta pode fazer toda a diferença para fortalecer essa prática. Se a mulher tiver outros filhos, que também dependerão da atenção dela, é ainda mais importante oferecer suporte para que ela consiga oferecer para o novo bebê a mesma qualidade de amamentação que o primeiro filho recebeu.

Assumindo o risco de ser considerada utópica: já pensou se cada brasileirinho pudesse contar com um ambiente favorável e gestos de gentileza como esses? Certamente teríamos um maior número de mães amamentando e de bebês, crianças, adolescentes e adultos com uma saúde, emocional inclusive, de ferro.

Ao governo, não basta investir em propagandas românticas com belas atrizes e seus bebês perfeitos. Até porque, o ato de amamentar não é necessariamente essa oitava maravilha, sobretudo nos primeiros dias. Muitas mulheres relatam fortes dores nas primeiras semanas, por isso, precisam estar fortalecidas para superar essa fase crítica. Se boa parte do que tem sido gasto com as agências publicitárias fosse usado no trabalho de orientação das gestantes, durante o pré-natal, teríamos lactantes encorajadas e bem informadas sobre a importância de seu papel, não apenas para garantir a saúde de seu bebê, mas para contribuir com uma sociedade menos violenta.

2 comentários:

miriam disse...

Olá Silvana! Meu nome é Miriam Leal. Sou enfermeira obstetra e trabalho na equipe do Dr Renato Kalil há 25 anos e, entre outras coisas, faço consultoria de amamentação para mulheres lactantes. Você tem razão: quisera todos os casais fossem preparados na gestação para o aleitamento. Falta informação, falta conhecimento científico, falta receber apoio de profissionais qualificados e também da família. Acredito que amamentar não é assim tão natural e nem tão automático. Exige muita paciência e aprendizado dos pais e também do bebê. Sugar é muito complexo e muitos bebês precisam ser estimulados para conseguir fazer este "exercício" com eficiência. Se todos nascessem sabendo o que e como fazer mulheres não sofreriam, não teriam fissuras, nem dor e nem a terrível sensação de fracasso por não terem conseguido oferecer ao seu filho o melhor e mais completo alimento, isto sem comentar os inúmeros benefícios emocionais, imunológicos e a prevenção de muitas doenças na vida adulta. Desejo que seu blog seja uma porta para auxiliar muitas mulheres e para conscientizar obstetras e maternidades sobre as vantagens de promover a primeira mamada da criança na primeira hora de vida, ainda na sala de parto.

Silvania Santos disse...

Cara Miriam, quanta honra receber o seu comentário e tão prontamente! Adoraria trocar mais figurinhas com você. Eis o meu e-mail: silvania.paula.santos@gmail.com