quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um congresso onde o amor estará em foco



Será que as crianças, em seu período primal - da concepção aos dois primeiros anos de vida - inspiram cuidados especiais? Michel Odent defende que esse período é tão importante que uma crise emocional da gestante ou certos comportamentos como o afastamento da mãe durante o parto e a brusca interrupção da amamentação podem interferir na capacidade de amar e estão diretamente ligados aos altos índices de violência e  outros comportamentos de risco. Por isso Odent e outros especialistas como Michael Stark e Heloísa Lessa estarão em um congresso em Las Palmas, nas Ilhas Canárias discutindo as práticas adotadas por parteiras, obstetras e educadores.
 
Durante este congresso avanços técnicos e científicos serão apresentados para sugerir novos critérios de avaliação das práticas adotadas no período primal. Odent e seus colaboradores usarão dados da etologia, da bacteriologia, da epidemiologia e endocrinologia, para demonstrar cientificamente como os bebes humanos, ao nascer, necessitam da mãe e mostrar que as práticas adotadas por profissionais do parto devem facilitar e garantir esse primeiro contato. Embora não pareça novidade, muitas crenças e rituais estabelecido ao longo da história, inclusive nos hospitais, perturbam ou impedem a interação da mãe com seu rescém nascido. Tais procedimentos passaram a ser recorrentes a ponto de as pessoas não questioná-los, por mais que se afastem do natural. Por exemplo, porque os bebês saudáveis são levados para uma pessoa estranha medir, pesar ou limpar os bebês assim que nascem? Essas ações seriam mais importantes que deixar o bebê no colo de sua mãe para o primeiro contato visual? Que prejuízo pode haver quando esse contato visual entre mãe e filho não acontece? O desafio da conferência é que a ciência moderna tome para si a responsabilidade de reverter este tipo de procedimento tão comum nos ambientes do parto. Outro desafio é a implantação de novos cursos práticos de parteiras, para formar "mulheres sábias", profissionais preparadas para cuidar da gestante e interferir o mínimo possível no momento do parto.

Eu estou ávida para discutir métodos de educação para o parto e para o aleitamento materno. Se o parto natural e a amamentação  podem prevenir comportamentos de risco e considerando que a escola se compromete com a formação global de seus estudantes, como os educadores podem propor reflexões que facilitem, no futuro, o sucesso no trabalho de parto e na amamentação? Se fizermos isso, reduziremos o comportamentos de risco na escola? Há evidências que sim, mas como saber se não propusermos ações de curto, médio e longo prazos?

Recentemente fui motivada por Alexandre Klemperer a escrever um monólogo sobre aleitamento materno. Filmamos esse monólogo de ficção com duração de cerca de dois minutos e pretendo levar esse trabalho para a conferência. Se for possível, essa será a minha contribuição, inspirada nos ensinamentos de Heloísa Lessa e Michael Odent no curso Ecologia do Parto.

O encontro acontecerá de 26 a 28 de fevereiro quando médicos, parteiras, educadores e outros profissionais que se interessam pelo período primal, dos cinco continentes, estarão em Las Palmas, no Palacio de Congressos de Canarias, inspirados pela Deusa do Amor. Gostaria muito de estar entre eles - estamos em fase de captação de recursos - e se estiver, dividirei com vocês as discussões mais importantes.
Vale lembrar que Michael Odent ministra palestras e cursos pelo mundo ensinando sobre o hormônio do amor - a ocitocina. Ele destaca que esse hormônio é incompatível com a adrenalina e que por isso é preciso que a gestante seja protegida do medo e receba um tratamento amistoso e minimamente invasivo. Cabe aos profissionais repensarem sua prática, mas é papel de cada um de nós encarar o período primal com responsabilidade para que a mãe e a criança recebam cuidados especiais. Assim, a capacidade de amar, desenvolvida principalmente nesse período, não será ameaçada.

Texto adaptado de: http://www.wombecology.com/conference/

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